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A chave deste romance talvez, possa ser dada pela interpretação das palavras que o intitulam. Assim, tanto o substantivo "família" quanto a preposição "de" ordenam-se de maneira incomum, se bem que tal ordenação possa lembrar a que se processa em copo d'água, máquina de escrever ou mio de fada, com a diferença de que nestes exemplos preposição e substantivo remetem para a idéia de conteúdo, serventia ou destino e continente ou natureza, enquanto que em Tempo de Família a remissão se faz, ou para a idéia de proximidade (de família =familiar), ou para algo parecido, digamos, com familiaveril, isto é, a idéia de que nos achamos diante de uma peça muito delicada a ser estudada com atenção de joalheiro - a FAMÍLIA. Por outro lado, se o leitor substituir por romance a palavra família, o título passaria a ser lido como Tempo de Romance. Tal substituição é possível pelo fato de o Autor deixar à mostra, à medida que o constrói, a armação ou a trama do livro. Nesse sentido, Tempo de Família pode-se filiar ao nouveau roman, cujos temas fundamentais, a casa, o tempo, a minuciosa descrição dos objetos, foram trabalhados por Nathalie Sarraute, Robbe-Grillet e Butor, entre outros. No Brasil, o pernambucano Osman Lins costuma ser apontado como o representante nacional dessa corrente. Finos exemplos de OL são Nove Novena, Marinheiro de Primeira Viagem e Avalovara. No cinema, grandes exemplos são Toda a Memória do Mundo e Ano Passado em Marienbad, de Allain Resnais. Conquanto Proust tivesse tido por meta captar o tempo a fim de o reconstruir, há grande distância entre o modo proustiano de materializar a memória e a maneira como o nouveau roman o fixa a fim de o desmontar ou destruir. Os seguidores da corrente parecem ter por divisa a frase de Novallis: "Tempo é espaço interior, espaço é tempo exterior", isto é, tempo e espaço são entidades contíguas como, numa moeda, a cara é contígua da coroa. Deve chamar a atenção do leitor, em especial, um entrecho bem urdido como "Cadeira de balanço", de tonalidade beckettiana, visto que tanto o irlandês quanto o brasileiro desenham na cadeira e em seu embalo a metáfora da morte: os corpos envelhecem, perdem o viço e o ímpeto do desejo, os olhos perdem o brilho, esvaziamse, o espaço morre. Fecha-se a vida, o romance se fecha
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